Em busca da genealogia de um “mártir da pátria”, G. F. de Andrade

Em busca da genealogia de um “mártir da pátria”, G. F. de Andrade

Com o registo e a comunicação electrónica (WWW) dos elementos que definem a identidade e as relações de parentesco entre os indivíduos, as pesquisas visando erguer a árvore genealógica das famílias têm crescido extraordinariamente nas últimas décadas. Uma curiosidade natural e, decerto, fruto de uma compulsão psíquica condicionada pelo gigantismo e anonimato característicos das aglomerações urbanas. Cidades e megalópoles onde, ano após ano, afluem e se acumulam grandes massas populacionais.

Neste quadro, e tendo em posse um amplo acervo documental relativo à genealogia de Gomes Freire de Andrade (1757-1817)  - um general partidário dos ideais liberais e um dos mais brilhantes militares da época -, a Casa da Eira, em Lanhelas, na passagem do bicentenário da sua condenação à morte e execução por crime de lesa majestade, promove uma mostra e a análise deste inusitado e valioso espólio.

Acervo constituído por documentos reunidos ou produzidos, pacientemente, por um investigador sabugalense, J. Gomes (Freire) Pinharanda, cuja linhagem o interliga à do "estrangeirado" general. O qual, aliás, se apresenta como um dos seus mais directos descendentes. Contudo, dadas as circunstâncias que envolveram as relações conjugais do homem que acompanhou Napoleão Bonaparte em temerárias e devastadoras incursões pela Europa - depois de ter vivido outras triunfantes e perigosas experiências em variados campos de batalha -, estamos perante uma reivindicação controversa, fundada, no essencial, numa romanesca tradição familiar.

Temos, pois, em vista um curto debate centrado nestas questões genealógicas e nas andanças bélicas além-fronteiras do eminente precursor da revolução liberal em Portugal. Assim como se procederá ao questionamento do tema do imperialismo napoleónico e das violências geradas lá onde, brutalmente, irrompia a soldadesca ocupante às ordens do Corso. E ainda haverá ocasião para reflectir sobre a abrasiva antinomia traição/redenção no tocante ao elo sentimental e político que cada qual estabelece com a comunidade de origem. Tal como se poderão aflorar as múltiplas formas de mitificação historiográfica e, por fim, problematizar a temática do expeditivo sistema de justiça do Antigo Regime, em contraposição aos avanços civilizacionais decorrentes do triunfo do ideário das Luzes.

Na sessão inaugural, em complemento ao debate, e com ilustração musical a cargo de um duo de teclas e clarinete, efectuar-se-á uma leitura dramatizada de alguns textos evocativos desta malograda figura da história portuguesa que, de certa forma, aqui é homenageada.